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domingo, 6 de março de 2011

O QUE TEM NO LIXO QUE TANTO REVIRA ? ( I )

Na realidade não é revirar, mas sim reciclar e reutilizar. Assim como em nossa memória guardamos muitas lembranças, que aparentemente não há valor algum associado a elas, porém, em um determinado momento pode adquirir um significado novo, dentro de um contexto de valores que se renovam, pelo fato das nossas verdades serem muito dinâmicas.
Hoje, estou tentando adequar o meu modo de vida com o conceito de consumo desenfreado que se apossou da nossa sociedade, essa necessidade de ter as coisas e, quando a tem, já quer o de modelo ou cor e formato diferente que foi lançado no mercado mais recentemente.
Há em casa um guarda-roupas herdado da minha mãe e a dois anos atrás, quando ao trocar o espelho e dar um verniz novo, notei uns selinhos, aqueles, que quando se comprava um produto, vinha colado na embalagem como sinal que o fabricante havia prestado conta com o fisco e a sua data era de 1955. Não era um produto de primeira linha, pois tinha diversos tipos de madeiras na sua estrutura, porém tinha uma qualidade bastante sólida para aguentar tantos anos e olha que foram algumas mudanças de endereços.
Assim como este guarda-roupas, tenho lembranças bastante sólidas quanto a reduzir, reciclar e reutilizar as embalagens dos produtos que consumimos. Por essa época, 1955, éramos um bando de meninos na faixa etária entre 8 a 15 anos e jogávamos bola em um terreno baldio, onde aos domingos se colocava as traves e aquele era o nosso campo de futebol oficial, assim como outros milhares  que haviam espalhados nas várzea da capital.
Como era um período de pós-guerra, havia muito desemprego e os adultos faziam fila em frente as fabricas de tecelagens, todos os dias, na esperança de conseguir uma vaga. Logo, para os meninos que queriam ganhar um dinheirinho, a situação era quase impossível e o que nos restava para conseguir um uniforme para o time de futebol era esperar o período das eleições e conseguir uma promessa do candidato do bairro, caso ele vencesse as eleições. Muitas vezes, o candidato apoiado perdia o pleito e nós ficávamos a ver navios e com a próxima eleição estava um pouco distante, tínhamos que arrumar outra alternativa.
Esta alternativa estava no ferro-velho do Seu Chico, que emprestava carrocinhas, para recolher os materiais descartáveis da época, jornais velhos, revistas, garrafas de vidros coloridos ou incolores, panelas velhas de ferro ou de alumínio, folhas de zinco, pedaços de fios de cobre e outros materiais que no momento não recordo.
Assim, saiamos sempre que possível em grupos de quatro garotos, o mais velho ou o mais forte ia puxando a carrocinha e os outros três, vasculhando os terrenos baldios que eram transformados em lixeiras pelo povão ou perguntando as donas de casas se não tinham nada para jogar fora. Ao final do dia, retornávamos ao ferro-velho para vender o que tínhamos recolhido ao longo do dia. Desta forma, depois de meses de trabalho pesado e economia, tínhamos o dinheiro para a compra dos uniformes. Não era uniforme completo não! Era somente as camisas, ficando os calções e as meias por conta de cada um, mas era uma alegria e um feito grandioso, que no domingo, dia de jogo, chamávamos o fotografo para tirar a foto de lembrança.
A causa  pode não ter sido nobre porém os efeitos foram benéficos, pois foi o início de um contacto com o conceito de reutilização e reciclagem.

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