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sexta-feira, 15 de abril de 2011

" NADA QUE CRIAMOS OU FAZEMOS É PERFEITO "

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Quando estamos em época de eleições é muito comum voce escutar em noticiario de televisão ou radio, o candidato A esta com 43 % +- 2% dos votos validos e o candidato B esta com 25% +- 2%  e assim por diante. Nas caixas de fósforos tem um aviso que diz 45 palitos em média, mas não diz a variação de quanto, significando que na caixa pode conter de 0 a 45 palitos. Assim também em uma linha de produção de carros nem todos saem perfeitos, sempre tem alguns com defeitos, hoje com uma certa frequencia, vê-se alguma montadora chamando ( RECALL ) para conserto de determinados carros.
É a estatistica utilizada nos processos, para controle de qualidade do sistema de produção de um bem material ou de um sistema qualquer para garantir a qualidade dos numeros gerados.
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Muitos dados são publicados a respeito da reciclagem de PET no Brasil,   seja em uma reportagem jornalistica ou em uma  tese universitaria,  percebemos que os dados citados  como referencia provem quase sempre de uma mesma fonte, formando  um ciclo vicioso que com o tempo ninguém questiona . 
 O Brasil reciclou no ano de 2009,  262.000 toneladas  de resinas PET, equivalente a 55,6% e se fizermos uma regra de 3 simples verificamos que este índice é sobre 471.000 toneladas de resina PET utilizadas na fabricação de garrafas. Estes números são o que esta disponível no 6° Censo (2010) divulgado pela ABIPET e vou tomar como ponto de partida. 
 A reciclagem mecânica por definição envolve a reciclagem primária e a secundaria, na maioria dos artigos que lemos sobre reciclagem verificamos que se trata de RECICLAGEM SECUNDARIA, sobre resinas recicladas  derivadas de embalagens pós consumo e no caso da RECICLAGEM PRIMÁRIA é sobre resinas recicladas  derivadas de pós processos industriais. Como encontramos muita literatura  sobre a reciclagem secundária e quase nada sobre a reciclagem primária, estou aventurando nesta matéria que acho importante neste momento .
As garrafas produzidas com a resina PET, são originárias de dois processos produtivos, primeiro são injectadas as pré formas (parison) e depois o processo de sopro. Estes dois processo podem ser independentes ou dependentes, escolhidos de acordo com a necessidade da empresa embaladora do produto final. No caso das grandes empresas envasadoras de refrigerantes, águas  e óleos utilizam os dois processos no mesmo local de envase do produto final e outras de menores porte utilizam somente o sistema de sopro junto ao local de envase.

No sistema de injecção, temos uma injetora que plastifica o material a ser injectado e um molde do produto projectado. No caso da injecção das pré formas de PET, tanto a injetora como o molde são de alta capacidade de produção, gerando em cada ciclo até 100 pré formas ou mais.
 Quando o material é injectado ao molde, iniciando o ciclo,  percorre um caminho que chama-se canal de injecção ate chegar a cavidade  do produto final, quando há a pressão de recalque , resfriamento e abertura do molde para retirada do material injectado, finalizando o ciclo .
No caso das pré formas de PET, como são muitas cavidades, o material percorre primeiro os canais principais e depois os canais secundários, para se chegar as cavidades das pré formas, como exemplo, vemos na figura ao lado  os canais principais e os secundários percorridos pelo material  para se chegar as cavidades. Os materiais resfriados nos canais de injecção, são os considerados aparas do processo e que necessitam  ser reciclados para serem reutilizados.
Alem dessas aparas existem os refugo do processo de injecção, que são as pré formas com defeitos, os materiais originados de acerto de condições de processamento, trocas de cores, borras de limpeza da maquina e outras, que entram naquele numero gerados pelo controle de qualidade  ou o grau de confiança do processo. Tanto as aparas originadas no sistema de injecção como os produtos fora de especificações, como as borras do processo são considerados sigilosos de cada fabricante e é muito difícil de consegui-los, portanto para a continuidade do artigo iremos estabelecer um parâmetro hipotético mas bastante próximo  da realidade, baseado na experiência pratica de quem vos escreve.

Na injecção das pré formas é utilizada molde com grande numero de cavidades, exactamente para reduzir estas aparas e usaremos o percentual de 8 a 10 % de aparas e para o material refugado um percentual  de  3 a 4%. Então para o processo de injecção teremos uma variação em torno de 11 a 14 %  do material virgem utilizados para a produção de pré formas, que serão matéria prima para a reciclagem mecânica primária. No  processo de sopro existem também os materiais que saem fora de especificações, originados pelos ajustes de processos, problemas mecânicos e eletricos,  mas não serão considerados neste artigo, por ser um numero muito reduzido perto do apresentado pelo sistema de injecção.

No censo apresentado pela ABIPET, temos em 2009, 47l.000 toneladas de resinas PET, utilizadas para produção de garrafas Pet, que originaram 471.000 x 11%= 51.850 toneladas  ou  471.000 x 14% = 65.940 toneladas  de materiais,  como materia prima para a reciclagem primaria. Este volume de material representa de 20 a 25% ( 262.000 toneladas ) do material reciclado em 2009.
Esta situação não é muito clara, se este material após a reciclagem mecanica é reinjetada no processo de produção que o gerou, misturada com materiais virgem ou vendida para produção de outras embalagens para alimentos, mas o certo é que este volume de material é muito grande para desaparecer sem deixar rastro, pois mesmo as bolsas de residuos das Federações de Industrias tem poucas ofertas destes produtos reciclados.

Os produtores e recicladores de latas de alumínio, utilizam o slogan  que o aluminio pode ser reciclado infinita vezes sem perder as suas caracteristicas e voltam a ser latas novamente iniciando um novo ciclo e que o PET não tem esta propriedade de ser 100 % reciclavel e poder ser reciclado infinitas vezes, porque os plásticos em geral guardam uma memória termica de todos os aquecimento e resfriamento que sofrem e em cada etapa vai perdendo parte das suas  propriedades intrinsecas.
Um exemplo clássico é a produção de copos descartaveis de poliestireno, onde inicialmente se produz uma chapa plana continua ( bobina ), pelo processo de extrusão, com espessura pré determinada pelo produto final e posteriormente esta bobina vai para uma maquina termoformadora de copos onde é aquecida e fechada em um molde onde ocorre a formação dos copos e o seu corte da chapa, saindo de um lado os copos termoformados e por tras da maquina a bobina toda furada com o diametro da boca do copo, é enrolada para posterior trituração e reciclagem. Nesta operação de termoformagem o aproveitamento da chapa varia de 60 a 70% em copos e o restante vai para a reciclagem. Muitas empresas fazem misturas deste reciclado com o material virgem, para fabricação das bobinas em diversas proporções, 60/40, 70/30 e assim por diante.

copos  para água e café

A primeira propriedade que o material perde é a ótica, o material virgem misturado com o reciclado vai perdendo a cor branco azulado, mudando para cor branco gesso, depois branco gelo, branco amarelado, etc. Neste estágio, param com a mistura e fazem produção de copos com o material reciclado e vendem a preços mais baratos, tipo promoção.
No processo de injeção das pré formas de PET, as condições de processamento são bastante severas, o canhão de injeção é aquecido por resistencias eletricas e controladas nas faixas de temperaturas entre  170 a 285 °C, fora a geração de calor por meio de cisalhamento do material com as paredes laterais e com a rosca. Estas condições de processos, deixam no material uma historia térmica, que levam a catalisar o inicio de degradação na resina. O processo de sopro das pré formas para obtenção das garrafas, as condições são mais brandas, o aquecimento é feito por raios infra vermelhos e esta radiação faz vibrarem as moleculas da resina, gerando  energia  necessaria para o estiramento e sopro da pré forma, ficando a temperatura externa da pré forma em torno de 100 °C.
Voltando para o  material reciclado PET oriundo de reciclagem primária, caso  utilizado em fabricação de embalagens para alimentos, são controlados por que orgão de vigilancia sanitaria e quais as analises quimicas são efetuadas nestes materiais e quais os parametros que eles devem obedecer ? ou são controlados ?
Por exemplo: caso sejam utilizados para fabricar garrafas pelo processo de injeção, teremos um novo ciclo, 51.850 toneladas ou 65.940 toneladas que originariam 5.703  ou  9.231 toneladas de material para a reciclagem mecanica primaria novamente, como nos copos ( vejam a diferença de cor ) quem fiscaliza ?
Acreditamos que no mínimo exista um bom senso entre os fabricantes que utilizam estes materiais reciclados façam testes periodicos de cromatografia gasosa e de espectrofotometro destes reciclados e comparem com os valores das resinas virgens. E cremos que estes valores sejam muito semelhantes, como também as sua  viscosidades intrinsicas.
Porque nada que criamos ou projetamos, pode ser adequado, mas nunca perfeito.
 

quarta-feira, 13 de abril de 2011

A QUEM ENGANAMOS ou SOMOS ENGANADOS ?

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A embalagens de  PET sem dúvida nenhuma trouxeram muitos benefícios na área da embalagens de alimentos, no inicio buscaram uma resina que pudesse ter como característica principal, a barreira contra gases, para dar vida mais longa aos alimentos. Com o desenvolvimento de novas tecnologias de transformação, principalmente o processo de injecção e posterior sopro, com estiramento bi-axial , esta resina desenvolveu caracteristicas de propriedades mecânicas e oticas que surpreenderam o mercado de embalagens. A transparencia e o brilho foram utilizadas pelo sector de marketing para mostrar a pureza, a cor do produto embalado, propriedades que faltavam as embalagens de alumínio e da folhas de frandes. As propriedades mecânicas da resina conjuntamente com os equipamentos desenvolvidos,  permitiram a criação de embalagens que facilmente deslocaram  as embalagens convencionais e ganharam o seus mercados; refrigerantes, água, chá, condimentos, isotonicos e  outros.

Mas sem dúvida nenhuma, a principal característica que revolucionou o mercado, com a entrada desta embalagem PET, foi  o processo de produção da garrafa em dois estágios, que mudou a logística directa de produção e distribuição dos produtos embalados com a garrafa de PET. Na realidade houve uma revolução no mercado de produção e distribuição dos refrigerantes, principalmente nas grandes empresas do sector. Nas áreas de produção, na estocagem, lavagem, menor área de estoque, menor investimento em embalagens, economia de água, energia, mão de obras, eliminação de intermediários (depósitos), transportes e em  sectores administrativos. Nos pontos de vendas, houve a diminuição de estoque em face do atendimento mais rápidos dos pedidos, menor área de estocagem (garrafas vazias), redução de mão de obra, rapidez na entrega, sem os vasilhames de retorno e outros. O consumidor, ganhou a comodidade de não precisar guardar e levar os vasilhames na hora da compra, menor possibilidade de acidentes caseiros e outras facilidades que os produtos one way permitem no dia a dia.
O que levou a escrever este artigo, foram os índices de reciclagens apresentados pelos dois maiores segmentos de embalagens de refrigerantes e afins, que são os alumínio e o PET. Uma guerra de números e de artigos de vanglorias, que necessitam ser melhor avaliados e digeridos pelos meios de comunicações e pela sociedade. Apresentamos dados fornecidos pelas próprias entidades que representam estas duas matérias primas a ABAL E ABIPET, para uma analise e posicionamento.
GRÁFICO DEMONSTRATIVO DE LATAS DE ALUMINIO PRODUZIDO X RECICLADO
 
A lata de alumínio chegou ao BRASIL no ano de 1989 e no momento 95% das bebidas vendidas em latas no pais utilizam a embalagem de alumínio. A embalagem de alumínio,  pode ser reciclada infinitas vezes e sempre volta como lata. O seu ciclo de vida, desde a sua produção até a sua reciclagem dura em média 35 dias, significando que a matéria prima alumínio em um ano volta até 10 vezes a mesa do consumidor.


GRAFICO DEMONSTRATIVO GARRAFAS PET PRODUZIDAS X RECICLADAS

 A embalagem de PET chegou ao BRASIL, em 1989, na Bahia, com a fabrica de pré formas em Simões Filho e em 1991 a instalação da 1ª unidade de sopro no "sistema in house", que revolucionou o mercados de embalagens para refrigerantes e agua. A embalagem de PET pós consumo, gera um material reciclado pelo processo de reciclagem mecânica, que não pode ser reutilizada para fabricação de embalagem para alimentos.
Como as embalagens de alumínio, as embalagens de PET embalam produtos com ciclos de vida bastante curtos, em média de 35 a 45 dias. Se fossem utilizados para fabricar novamente, o  mesmo PET, também estaria na mesa do consumidor em média 10 vezes por ano.

gráfico para demonstrar o acumulado de latas de alumínio no meio ambiente entre 2004 a 2009

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gráfico mostrando o acumulado de garrafas PET no meio ambiente entre 2004 a 2008
 Como estes valores são tão diferentes!! O meio ambiente acusa neste período de 2004 a 2008, que as garrafas de PET pós consumo agrediram 28 vezes mais do que as embalagens de alumínio.
Estes materiais são utilizados praticamente no mesmo segmento de mercado, tem o tempo de vida no mercado quase o mesmo, com diferença de 2 anos a mais para o alumínio, embalam produtos com ciclos de vidas quase idênticos, então por que números tão diferentes ?
O assunto esta definido e os números estão disponíveis, para os seus comentários e posicionamentos.
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O meu comentário será  baseado nos artigos e teses universitárias que tenho lido na busca de informações para um projecto de logística reversa de embalagens pós consumo. Então. buscarei ser o mais imparcial possível, dando apenas posicionamento como um consumidor normal.
Tanto o Alumínio como o Pet, na reciclagem, aproveitaram a estrutura de selecção e colecta  já consagrada, para os materiais recicláveis como o papel, papelão, metais em geral ( latão, chumbo, cobre e ferro ) e vidros, aqui no Brasil e se tornaram mais um item de reciclagem.
A diferença foi que o Alumínio trouxe uma experiência de outros países em reciclagem, onde o minério era escasso e a reciclagem valorizada em todo o seu ciclos, desde a colecta até a fundição, fechando o ciclo de vida. O que não aconteceu com o Pet, que teve origem nos Estados Unidos e México, que são os dois maiores consumidores de Pet para embalagens descartáveis e onde os materiais virgens são abundantes e o preço do reciclado muito perto da resina virgem, que  faz não compensar a selecção e colecta e reciclagem das garrafas pós consumidas ( mão de obra cara ). Este modelo foi implantado no Brasil, não valorizando todas as etapas do ciclo de reciclagem das embalagens pós consumo, principalmente a colecta e selecção.
Em 1989, morava em Salvador na Bahia e quando fazia uma comemoração ou uma festa de aniversário, ia até ao deposito de bebidas e comprava as cervejas, refrigerantes família, e outras bebidas e deixava um cheque como caução, pelas garrafas e engradados que levava emprestado. Terminada as festas e consumidos os líquidos devolvia as garrafas e os engradados e retirava o cheque caucionado, enfim, pagava somente o líquido consumido. Isto também valia nos super mercados, nas compras quinzenais ou mensais, onde comprava os refrigerantes e caso não tivesse o casco, pagava um deposito compulsório pelo vasilhame, isto é, pagava somente o liquido. Estou me referindo a Salvador, porque lá era assim, em São Paulo ou outros lugares não sei. Resumindo, o retorno dos vasilhames era responsabilidade das empresas envasadoras dos produtos.
Actualmente, você vai ao super mercado, compra os refrigerantes de qualquer marca em embalagens Pet, paga pelo liquido e pelo vasilhame e depois de consumido o líquido, a responsabilidade do retorno adequado  do vasilhame é sua e do poder público. Esta mudança na regra de comercialização que deve ser revista pela Lei Nacional de Resíduos Sólidos, no capitulo da Logística Reversa e Responsabilidade Extendida. Caso as empresas de refrigerantes, fossem obrigadas a devolverem o valor pago pelo vasilhame ou parte dele, a etapa de selecção e colecta estaria resolvida, visto o caso da latas de alumínio que valoriza esta etapa da reciclagem e talvez pudéssemos melhorar este placar de 28 X 1 para o PET DEGRADANDO O AMBIENTE.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

O QUE TEM NO LIXO QUE TANTO REVIRA ? ( I I )


O ferro-velho do Seu Chico ficava na primeira esquina na rua  de casa, era um terreno acidentado, e no alto ficava o barracão de madeira com tecto de zinco, que dominava toda a visão do terreno e permitia também controlar quem entrava e saia do local. Como ficava perto de casa, sempre que podia dava uma passadinha lá para ver se encontrava alguma coisa interessante. Numa dessas visitas, notei que ele guardava muitas coisas dentro do barracão, montanhas de jornais e os produtos de maior valor como os materiais de cobre, alumínio, latão, chumbo e outros equipamentos velhos e completos que ainda funcionavam.
Na realidade, o que me interessava eram os jornais velhos e as revistas, porque estes papeis eram utilizados como embalagens em quitandas, açougues, feiras-livres, armarinhos e armazéns gerais. E os proprietários destes estabelecimentos vinham comprar os jornais por quilo e perdiam tempo seleccionando o que queriam.
Foi quando fiz a proposta para o Seu Chico de separar os jornais, fazer fardos de cinco e dez quilos e enfardar também as revistas maiores como O CRUZEIRO, que serviam para embalar ovos, maços de salsinha , cebolinha e coisas miúdas. As outras revistinhas tipo Pato Donald, Mickey, Zorro, Flash Gordon, Super Homem, Mandrake, Tarzan, Bat Man  e muitos outros, não tinham valor comercial como embalagem, devido as pequenas dimensões. A proposta foi que faria os fardos de jornais e das revistas grandes, em troca receberia todas as revistinhas que encontrasse na confecção dos fardos.

Proposta aceita; todos os dias após ás aulas, almoçava e lá estava no ferro-velho separando e amarrando os fardos de jornais. Fazia com alegria, pois achava muitas revistinhas e entre um fardo e outro tinha tempo para ler as que apreciava (quase todas). Na semana encontrava umas trinta a quarenta revistas que amontoava e levava para casa no sábado á tarde. Era uma festa com meus irmãos, cada um pegava um monte e sumia, porque as professoras diziam que as revistas em quadrinhos não eram boas para nossa formação e meus pais proibiam a leitura em casa. 

A família era composta pelos meus pais e seis filhos três varões e três varoas, seria mais fácil dizer meninos e meninas, mas depois que comecei a ler a Bíblia Sagrada, acho bonito as expressões varão e varoa e as utilizo sempre que posso.
Aos domingos à tarde, havia um sessão de cinema que chamavam de matinee e meus pais não tinham condição de pagar as entradas para todos e normalmente fazíamos rodízio, ficava louco com isso, porque as domingos passava um seriado que continuava sempre no próximo domingo, como fazem as novelas hoje, cada dia um capítulo e quando perdia um domingo ficava triste.
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Uma das razões de ir ao ferro-velho separar as revistinhas era que podia ler as revistas usadas, pois não tinha condição de comprar as novas e  a outra era  a possibilidade de negociar as usadas e fazer um dinheirinho para ir ao cinema aos domingos.
No domingo, após o almoço por  volta das 12 horas, ajuntava as revistas e amarrava com alguns jornais, ia pra frente do cinema; no bairro haviam 2 cinemas, o Maracanã e o Soberano, onde passava o melhor filme ou o seriado que acompanhava era o ponto de venda. Nas primeiras semanas o negócio não foi muito bom e tive que pagar o ingresso com o dinheiro do meu próprio bolso, mas nas semanas seguintes;  bingo!!! sucessão!!! , espalhava os jornais no chão encostado na parede do cinema, colocava algumas revistas em pé e outras em cima dos jornais, como fazem os camelos no centro da cidade e lá estava eu de mascaste, esperando os meninos passarem para ir ao cinema.

Este comercio prosperou por três meses, até o meu irmão do meio descobrir que o dinheiro que eu comprava as coisas que precisava vinha das vendas de revistas aos domingos na porta do cinema e quis se tornar meu sócio. A principio recusei, mas acabei concordando, porque ia acabar apanhando e ia perder todas as revistas.
Ficamos acertados que forneceria as revistas e cada um ia para um cinema diferente e dividiríamos o dinheiro da venda das revistas que ele vendesse. No final do primeiro domingo do acordo firmado, procurei o para acertar as contas e ele me disse que não tinha nada para acertar. Fiquei zangado, perdi as revistas mas ele perdeu o fornecedor e a sociedade.
Voltei a rotina no ferro-velho e não percebi que o meu irmão vigiava todos os meus passos, com isso acabou descobrindo a fonte da matéria prima. Na semana seguinte quando voltei ao ferro-velho, o barracão do seu Chico estava cheio de criança fazendo o trabalho que fazia e isso acabou com a minha mina de ouro.
Uma passagem da minha infância que deixou saudades e aprendizado de como reduzir, reciclar e reutilizar os materiais que jogamos no lixo.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

CORTADOR DE TIRAS DE GARRAFAS PET POS CONSUMO

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Buscando videos para ilustrar matérias que faço no  blog, achei uma idéia interessante, para compartilhar com o pessoal que gosta de fazer artesanato com tiras de garrafas PET. Uma ferramenta simples, de madeira que qualquer pessoa pode fazer e com custo praticamente zero. Aproveitem !!!!! E bom trabalho.

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Gostaria de lembrar que a parte que foi cortada para confeção das tiras é o corpo da garrafa, êle representa mais ou menos 56% em peso  da garrafa original, o fundo representa +- 28% em peso e o gargalo +- 16% em peso. Na reciclagem das garrafas PET pos consumo, a parte que possibilita a contaminação (químicamente) dos flocos (flakes) são o rótulo e a cola que normalmente são colocados no corpo da garrafa; logo, do fundo e do gargalo pode-se  produzir flocos de alta qualidade e livre de contaminação.


gargalos de garrafas PET
 

fundos de garrafas PET
 
Muitas pessoas quando precisam de alguma parte de um todo,  normalmente retiram aquilo que precisam e descartam o restante como lixo ou coisa que não presta, neste caso, não façam isso o que sobrou é muito valioso.
Ajunte, pois não ocupa muito espaço e quando tiver uma boa quantidade entregue em um ponto de entrega voluntaria ou dê a um catador de recicláveis independente. BOA SORTE !!!!

sexta-feira, 1 de abril de 2011

BANGLADESH *Antes da ler este artigo assista ao video da postagem anterior *


País : BANGLADESH
Capital : DAKA
População: 154.037.902 hab.
Área : 143.998 Km2
Densidade: 1.002 hab/km2
( a maior do mundo).
Renda per capita:U$1.300 (153°)
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Procurava um vídeo sobre reciclagem PET que pudesse ilustrar os artigos que estava escrevendo, quando deparei com um vídeo sobre "a população pobre de Bangladesh lucra com reciclagem de PET" e ao assisti-lo fiquei a analisa-lo no aspecto tecnológico   do processo ( começo, meio e fim ) e comparar com o que temos no Brasil.  Mas, havia algo que me incomodava e não conseguia identificar o quê ou o porquê.
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Sabemos que há 3 (três) tipos de reciclagens para as garrafas PET : a mecânica, a química e a energética. No Brasil adoptou-se  a reciclagem mecânica, por ela requerer  pouca tecnologia, baixo aporte financeiro e baixo nível de especialização na mão de obra, uma actividade essencialmente própria para um pais subdesenvolvido ou em desenvolvimento. Em qualquer visita de alguém que  esteja fazendo trabalhos ou levantamentos sobre reciclagem de garrafas PET pós consumo em nosso pais, deve ficar  maravilhado com o nível de tecnologia aplicado na produção dos flakes (flocos), desde a alimentação, lavagem, trituração, pós lavagem, secagem, silagem e embalagem dos produtos acabados, onde há pouca ou nenhuma  interferência do homem no processo produtivo. Apresentamos a seguir um vídeo de um processo produtivo de reciclagem PET utilizado no Brasil,  produção média de 700kg/hora.

                                   

Qual a semelhança que encontramos nos dois vídeos?
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 O material a ser reciclado sendo colectado, a reciclagem acontece tenha ou não tecnologia no sistema de produção. No vídeo de Bangladesh, o material a ser reciclado esta amontoado em um pátio, para ser separado por cores e limpos dos rótulos e outras impurezas e consequentemente identificação do material das garrafas. O seu transporte até aquele local foi feito sem o material ser prensado, o que com certeza foi dificultoso, pelo volume ocupado pela carga.
Existe uma coerência desde a colecta, separação, transporte, limpeza onde mostra o inicio da cadeia da reciclagem, formada por um batalhão de pessoas de baixa renda e  especialização, devido ao serviço ser simples e em seguida um processo de trituração e lavagem praticamente artesanal e a retirada do excesso de água por meio de uma centrifugação ( centrifugas antigas,utilizadas para retirada de excesso de água de roupas em lavandarias).
E o processo continua com a secagem por evaporação ao ar livre, com mexidas eventuais e retiradas de contaminantes e posterior embalagem (exportação).

Pais : Brasil
Capital : Brasília
População : 190.732.694 habitantes
Área : 8.514.876.599 km2
Densidade : 22 hab/km2
Renda per capita : U$ 10.296 (70°)

O modelo adoptado pelo sistema de reciclagem de garrafas PET pós consumo , no Brasil,  foi aproveitar o que havia  naquele momento (1994), da colecta de recicláveis e aumentar mais um item que foi a garrafa PET. Daquela data até os dias de hoje, foram criadas em alguns municípios o sistema de colecta selectiva ( 945), sistema de cooperativas e implantação das prensas para enfardar PET nessas cooperativas, alguns pontos de entregas voluntárias,  mudanças que culminaram no aumento do índice de reciclagem conforme gráfico abaixo.
TAXA DE RECICLAGEM PET NO BRASIL
O grande volume desse material reciclado, são originários de lixões e catadores independentes que vendem para pequenos sucateiros e grandes intermediários, os trabalhadores que executam esta tarefa de colecta e selecção das garrafas PET tem as condições de trabalho iguais ou piores que os trabalhadores do vídeo de BANGLADESH.
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Aquilo que me incomodava foi aos poucos surgindo, porque no inicio do artigo,  estava com a atenção voltada para a tecnologia nos dois processos e percebia a realidade dos dois países e a diferença nos dois processos, mostrava a eficiência do  modelo brasileiro, justificada pelo volume do material a ser reciclado. 
O pais Bangladesh, tem o território do tamanho do Estado do ACRE, a sua população é 224 vezes maior e a sua renda per capita oito vezes menor que a do brasileiro.
A diferença tecnológica  nos processos  de reciclagem das garrafas PET entre os dois países é a mesma diferença que existe entre o ganho do trabalhador (catador) de recicláveis  e o  ganho dos sucateiros e recicladores no BRASIL. A diferença das tecnologias é justificável, em face do volume de material a ser reciclado, porém a diferença no ganho não há como buscar uma justificativa é a nossa actual  realidade.
Deve existir  um modelo para o processo de reciclagem mais justo entre estes dois extremos que foi apresentado, onde a necessidade de reciclar a garrafa PET pós consumo seja uma prioridade, remunere com justiça toda a cadeia, desde o (começo) catadores, cooperativas, o meio (recicladores) e o final (empresas consumidoras de reciclado) porque todos seremos vencedores, as empresas produtoras de resinas, fabricantes de equipamentos, fornecedores de pré formas, os embaladores de produtos, os consumidores,  a cadeia de reciclagem, a sociedade, o poder público, o meio ambiente.
Que o  Plano Nacional de Resíduos Sólidos, aprovado em 2010, seja um marco e um divisor de águas para todo o sistema de reciclagem no Brasil.

sábado, 26 de março de 2011

DENSIDADE APARENTE : O QUE É E PARA QUE SERVE?

O sistema de reciclagem de garrafas Pet pós consumo esbarra em um problema muito comum nos meios de transportes, que é O CUSTO do frete. Nos  transportes seja rodoviário, ferroviário ou aéreo a cobrança do frete é definida pelo peso do material ou pelo volume ocupado pela carga a ser transportada.
Desta forma entra em cena uma variável física chamada densidade, que é a relação entre a massa do objecto avaliado, dividido pelo volume ocupado pelo  mesmo. Existem diversos tipo de densidades e uma das que nos interessa no momento é a densidade aparente do material, também conhecida como densidade de massa ou bulk density. 
Quando se tem uma rocha sólida, ela tem um peso (P) e ocupa um certo volume (V1), portanto tem uma densidade R= (P)/(V1), quando a pedreira quebra esta rocha em vários pedaços pequenos, estes pedaços pequenos passam a ocupar um volume (V2), maior que o volume (V1) inicial. Esta nova relação peso (P) com o volume (V2) é que chamamos de densidade aparente = (P)/(V2).

No caso das resinas PET acontece a mesma coisa, a resina tem uma densidade em torno de 1,35g/cm3, porém ela não sai da fabrica como uma massa sólida, ela é comercializada em forma de pellets (graõnzinhos)  e a sua densidade aparente é de 0,85 a   0,88g/cm3. Quando a resina é injectada para fabricar a pré forma de 2l, a sua densidade aparente vai para 0,52 a 0,54g/cm3  e quando a pré forma é soprada para fabricar a garrafa final a sua densidade aparente é de 0,025g/cm3 . Resumindo a cada forma que a resina vai sendo moldada a sua densidade aparente vai se alterando.  

No inicio da reciclagem das garrafas PET pós consumo, as garrafas colectadas eram transportadas normalmente como vemos nas figuras acima, a sua densidade aparente era muito baixa e como o ganho dos catadores e das associações de catadores, era por quilo, o ganho relativo ao PET era muito pequeno e as vezes nem compensava o recolhimento.
Com a utilização das prensas para enfardar as garrafas PET como vemos na figura ao lado (densidade aparente entre 0,059 a 0,108g/cm3), o preço do material recolhido e seleccionado, praticamente dobrou de preço, devido ao barateamento do frete do  material a ser reciclado para as recicladoras, que foi repassado para os catadores, servindo como um catalisador para aumentar o índice de reciclagem destas embalagens.
Por que as empresas engarrafadoras de refrigerantes e águas não utilizam as embalagens de PET retornáveis? Uma óptima pergunta! Não teríamos o problema de reciclagem das garrafas PET, visto que seriam desenvolvidas garrafas com densidades aparentes mais altas que permitiria ter embalagens com qualidades técnicas que poderiam ser retornáveis o número de vezes compatíveis com os custos das garrafas descartáveis.
Este é um assunto, que caso alguém tenha interesse dá para fazer uma tese de pós-graduação e depois uma tese de mestrado e depois uma tese de doutorado e ainda continuar se especializando e não conseguira esgotar o assunto e chegar a uma conclusão. Não estou afirmando que não haja trabalhos científicos sobre o assunto, existem milhares de teses de todos os níveis é só procurar na Internet não só nos bancos de dados do Brasil, mas no mundo todo e não há um posicionamento.
O assunto é bastante polémico devido a sua complexidade e envolver várias frentes teóricas como: aquecimento global, fontes renováveis, ciclo de vida, meio ambiente, sustentabilidade, economia e outros. Então, vamos ficar no assunto que começamos, a densidade aparente.
Em 2009 o pais reciclou 198,8 mil toneladas de sucatas de latas de alumínio (96,2%) ou 14,7 biliões de unidades ou 40,3 milhões de unidades/dia ou 1,7 milhões unidades/hora, não sendo esta actividade obrigatório por lei como no Japão (93,4%). O Brasil consegue atingir esta marca mesmo sendo a terceira (3ª) maior reserva mundial de bauxita, depois da Austrália e Guiné, então por que este índice ?
O seu valor residual é alto, tornando-se uma fonte de renda, para seus colectores. A sucata de latinha de alumínio vale actualmente 6 vezes mais do que a garrafa plástica de PET e  33 vezes mais do que as de aço e 55 vezes mais do que as garrafas de vidro (no sucateiro).
O ciclo de vida das latinhas de alumínio, desde a sua produção na fabrica até a sua volta aos centros de reciclagem é de aproximadamente 60 dias. Mostrando que embalam produtos de altos consumos e alto giro  a mesma matéria prima pode retornar de 5 a 6 vezes ao ano no mercado por ser um material 100% reciclável.

Então, vejamos  o ciclo de vida da latinha de alumínio até onde nos interessa, para  aplicação do conceito de densidade aparente, que é o nosso foco.

1° PASSO: A COMPRA,
O consumidor compra o produto enlatado no super mercado;


2º PASSO: O DESCARTE,
Depois de consumido o produto embalado a lata é descartada;


3º PASSO: A COLETA
A latinha é recolhida e levada ao posto de troca (coleta), ou vendida aos sucateiros e o colector ganha mais ou menos R$ 3,00 para cada grupo de 75 latinhas, nesta fase a latinha sofre a 1ª prensagem para a redução do seu volume, para facilitar o seu transporte;


4º PASSO: A  PRENSAGEM
Neste estágio, as latas são prensadas novamente, gerando fardos com dimensões e densidades  definidas pelo reciclador.

Existem outras etapas da reciclagem que são Fundição, Lingotamento, Laminação, Novas latas, Enchimento e Consumo fechando o ciclo.

O alumínio tem uma densidade relativa de 2,7 g/cm3.

A latinha de alumínio tem as seguintes dimensões 12,5 cm de comprimento e 6 cm de diâmetro e o seu peso é de 14,5 g, portanto uma densidade aparente de D = 14,5/353 = 0,041g/cm3,  quando é descartada no 2°PASSO esta com  densidade aparente de 0,041g/cm3.

No 3°PASSO ela sofre uma 1ª prensagem individual, é pisada ( o normal ), para reduzir o seu volume e sua densidade aparente vai para aproximadamente D = 14,5/113 = 0,128 g/cm3,( Para este cálculo estimamos que ao pisar a lata o comprimento se reduz para 4 cm).

No 4ºPASSO as latinhas são prensadas em fardos com densidades aparentes entre 0,5 a 0,6 g/cm3,  para se conseguir estas densidades  os fardos são feitos em prensas hidráulicas (semelhantes a utilizadas com as garrafas PET) com o objectivo de minimizar o custo frete.

O catador ou o recolhedor, ao transportar as latinhas amassadas com o pé, utiliza normalmente uma sacola ou um saco plástico, então neste caso, vamos calcular qual o volume ocupado por 2 quilos de latinhas. Uma lata pesa 14,5 g então em 2 quilos de latinhas temos: Nº latas = 2000g/14,5g = 140; cada latinha pisada tem uma densidade de 0,128 g/cm3 então as 140 latas irão ocupar um volume médio de Vm = 2000g/0,128g/cm3 = 15,6 litros. 


Uma visita no site da Cempre 26/03/2011, colectamos os seguintes dados sobre  o preço dos materiais recicláveis ALUMÍNIO e PET que apresentamos a seguir:
     Material           Estado            Condições              Preço(R$/ton)

                              São Paulo         Prensado/limpo        1.200,00
     PET                  Rio Janeiro        Prensado/limpo        1.200,00
                              RGS                Prensado/limpo         1.100,00
                             São Paulo         Prensado                  2.400,00
     ALUMÍNIO        Rio Janeiro        Prensado                  2.400,00
                             RGS                 Prensado                  2.400,00

Pelos preços apresentados na bolsa de cotação do CEMPRE (para as cooperativas e sucateiros),  o Alumínio vale duas vezes mais do que o Pet, porem estes preços sofrem muita variação em função da falta ou não de mercadoria no mercado e devem ser utilizados somente como referencia.

APRESENTAMOS A SEGUIR O SEGUINTE DESAFIO: PELOS DADOS EXPOSTOS SOBRE AS DENSIDADES APARENTES E OS PREÇOS DE VENDA DO ALUMÍNIO E DO PET SE VOCÊ FOSSE UM CATADOR DE RECICLÁVEL INVESTIRIA MAIS EM QUAL MATERIAL?
Não se esqueçam antes de responder ou opinar que 96,2% do alumínio utilizado nas embalagens são recicladas e para se fazer 1 quilo de latinhas de alumínio precisa-se de 70 latas e para  fazer 1 quilo de Pet é preciso de 20 garrafas PET de 2 litros. BOA SORTE !!!