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sexta-feira, 15 de abril de 2011

" NADA QUE CRIAMOS OU FAZEMOS É PERFEITO "

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Quando estamos em época de eleições é muito comum voce escutar em noticiario de televisão ou radio, o candidato A esta com 43 % +- 2% dos votos validos e o candidato B esta com 25% +- 2%  e assim por diante. Nas caixas de fósforos tem um aviso que diz 45 palitos em média, mas não diz a variação de quanto, significando que na caixa pode conter de 0 a 45 palitos. Assim também em uma linha de produção de carros nem todos saem perfeitos, sempre tem alguns com defeitos, hoje com uma certa frequencia, vê-se alguma montadora chamando ( RECALL ) para conserto de determinados carros.
É a estatistica utilizada nos processos, para controle de qualidade do sistema de produção de um bem material ou de um sistema qualquer para garantir a qualidade dos numeros gerados.
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Muitos dados são publicados a respeito da reciclagem de PET no Brasil,   seja em uma reportagem jornalistica ou em uma  tese universitaria,  percebemos que os dados citados  como referencia provem quase sempre de uma mesma fonte, formando  um ciclo vicioso que com o tempo ninguém questiona . 
 O Brasil reciclou no ano de 2009,  262.000 toneladas  de resinas PET, equivalente a 55,6% e se fizermos uma regra de 3 simples verificamos que este índice é sobre 471.000 toneladas de resina PET utilizadas na fabricação de garrafas. Estes números são o que esta disponível no 6° Censo (2010) divulgado pela ABIPET e vou tomar como ponto de partida. 
 A reciclagem mecânica por definição envolve a reciclagem primária e a secundaria, na maioria dos artigos que lemos sobre reciclagem verificamos que se trata de RECICLAGEM SECUNDARIA, sobre resinas recicladas  derivadas de embalagens pós consumo e no caso da RECICLAGEM PRIMÁRIA é sobre resinas recicladas  derivadas de pós processos industriais. Como encontramos muita literatura  sobre a reciclagem secundária e quase nada sobre a reciclagem primária, estou aventurando nesta matéria que acho importante neste momento .
As garrafas produzidas com a resina PET, são originárias de dois processos produtivos, primeiro são injectadas as pré formas (parison) e depois o processo de sopro. Estes dois processo podem ser independentes ou dependentes, escolhidos de acordo com a necessidade da empresa embaladora do produto final. No caso das grandes empresas envasadoras de refrigerantes, águas  e óleos utilizam os dois processos no mesmo local de envase do produto final e outras de menores porte utilizam somente o sistema de sopro junto ao local de envase.

No sistema de injecção, temos uma injetora que plastifica o material a ser injectado e um molde do produto projectado. No caso da injecção das pré formas de PET, tanto a injetora como o molde são de alta capacidade de produção, gerando em cada ciclo até 100 pré formas ou mais.
 Quando o material é injectado ao molde, iniciando o ciclo,  percorre um caminho que chama-se canal de injecção ate chegar a cavidade  do produto final, quando há a pressão de recalque , resfriamento e abertura do molde para retirada do material injectado, finalizando o ciclo .
No caso das pré formas de PET, como são muitas cavidades, o material percorre primeiro os canais principais e depois os canais secundários, para se chegar as cavidades das pré formas, como exemplo, vemos na figura ao lado  os canais principais e os secundários percorridos pelo material  para se chegar as cavidades. Os materiais resfriados nos canais de injecção, são os considerados aparas do processo e que necessitam  ser reciclados para serem reutilizados.
Alem dessas aparas existem os refugo do processo de injecção, que são as pré formas com defeitos, os materiais originados de acerto de condições de processamento, trocas de cores, borras de limpeza da maquina e outras, que entram naquele numero gerados pelo controle de qualidade  ou o grau de confiança do processo. Tanto as aparas originadas no sistema de injecção como os produtos fora de especificações, como as borras do processo são considerados sigilosos de cada fabricante e é muito difícil de consegui-los, portanto para a continuidade do artigo iremos estabelecer um parâmetro hipotético mas bastante próximo  da realidade, baseado na experiência pratica de quem vos escreve.

Na injecção das pré formas é utilizada molde com grande numero de cavidades, exactamente para reduzir estas aparas e usaremos o percentual de 8 a 10 % de aparas e para o material refugado um percentual  de  3 a 4%. Então para o processo de injecção teremos uma variação em torno de 11 a 14 %  do material virgem utilizados para a produção de pré formas, que serão matéria prima para a reciclagem mecânica primária. No  processo de sopro existem também os materiais que saem fora de especificações, originados pelos ajustes de processos, problemas mecânicos e eletricos,  mas não serão considerados neste artigo, por ser um numero muito reduzido perto do apresentado pelo sistema de injecção.

No censo apresentado pela ABIPET, temos em 2009, 47l.000 toneladas de resinas PET, utilizadas para produção de garrafas Pet, que originaram 471.000 x 11%= 51.850 toneladas  ou  471.000 x 14% = 65.940 toneladas  de materiais,  como materia prima para a reciclagem primaria. Este volume de material representa de 20 a 25% ( 262.000 toneladas ) do material reciclado em 2009.
Esta situação não é muito clara, se este material após a reciclagem mecanica é reinjetada no processo de produção que o gerou, misturada com materiais virgem ou vendida para produção de outras embalagens para alimentos, mas o certo é que este volume de material é muito grande para desaparecer sem deixar rastro, pois mesmo as bolsas de residuos das Federações de Industrias tem poucas ofertas destes produtos reciclados.

Os produtores e recicladores de latas de alumínio, utilizam o slogan  que o aluminio pode ser reciclado infinita vezes sem perder as suas caracteristicas e voltam a ser latas novamente iniciando um novo ciclo e que o PET não tem esta propriedade de ser 100 % reciclavel e poder ser reciclado infinitas vezes, porque os plásticos em geral guardam uma memória termica de todos os aquecimento e resfriamento que sofrem e em cada etapa vai perdendo parte das suas  propriedades intrinsecas.
Um exemplo clássico é a produção de copos descartaveis de poliestireno, onde inicialmente se produz uma chapa plana continua ( bobina ), pelo processo de extrusão, com espessura pré determinada pelo produto final e posteriormente esta bobina vai para uma maquina termoformadora de copos onde é aquecida e fechada em um molde onde ocorre a formação dos copos e o seu corte da chapa, saindo de um lado os copos termoformados e por tras da maquina a bobina toda furada com o diametro da boca do copo, é enrolada para posterior trituração e reciclagem. Nesta operação de termoformagem o aproveitamento da chapa varia de 60 a 70% em copos e o restante vai para a reciclagem. Muitas empresas fazem misturas deste reciclado com o material virgem, para fabricação das bobinas em diversas proporções, 60/40, 70/30 e assim por diante.

copos  para água e café

A primeira propriedade que o material perde é a ótica, o material virgem misturado com o reciclado vai perdendo a cor branco azulado, mudando para cor branco gesso, depois branco gelo, branco amarelado, etc. Neste estágio, param com a mistura e fazem produção de copos com o material reciclado e vendem a preços mais baratos, tipo promoção.
No processo de injeção das pré formas de PET, as condições de processamento são bastante severas, o canhão de injeção é aquecido por resistencias eletricas e controladas nas faixas de temperaturas entre  170 a 285 °C, fora a geração de calor por meio de cisalhamento do material com as paredes laterais e com a rosca. Estas condições de processos, deixam no material uma historia térmica, que levam a catalisar o inicio de degradação na resina. O processo de sopro das pré formas para obtenção das garrafas, as condições são mais brandas, o aquecimento é feito por raios infra vermelhos e esta radiação faz vibrarem as moleculas da resina, gerando  energia  necessaria para o estiramento e sopro da pré forma, ficando a temperatura externa da pré forma em torno de 100 °C.
Voltando para o  material reciclado PET oriundo de reciclagem primária, caso  utilizado em fabricação de embalagens para alimentos, são controlados por que orgão de vigilancia sanitaria e quais as analises quimicas são efetuadas nestes materiais e quais os parametros que eles devem obedecer ? ou são controlados ?
Por exemplo: caso sejam utilizados para fabricar garrafas pelo processo de injeção, teremos um novo ciclo, 51.850 toneladas ou 65.940 toneladas que originariam 5.703  ou  9.231 toneladas de material para a reciclagem mecanica primaria novamente, como nos copos ( vejam a diferença de cor ) quem fiscaliza ?
Acreditamos que no mínimo exista um bom senso entre os fabricantes que utilizam estes materiais reciclados façam testes periodicos de cromatografia gasosa e de espectrofotometro destes reciclados e comparem com os valores das resinas virgens. E cremos que estes valores sejam muito semelhantes, como também as sua  viscosidades intrinsicas.
Porque nada que criamos ou projetamos, pode ser adequado, mas nunca perfeito.
 

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